Ativos Florestais

Quer investir em Ativos florestais? Acesse Ouroverdeagronegócio

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A influência da mídia e estratégias para combater os modos de consumo


“A cultura é o que um povo, uma comunidade tem de mais precioso e sagrado. É a maneira de comer, beber, cantar, dançar, criar filhos, se visitar. No momento em que ela é descaracterizada, esse povo facilmente pode ser dominado. E a cultura, muitas vezes, leva à dominação política e econômica”.  (Guareschi, 2003)





Todos nós, diariamente estamos expostos à influência da mídia.  Quantas vezes no dia-a-dia você já não se flagrou reproduzindo cenas, músicas, danças, estilos de roupas, cabelos e comportamentos veiculados pela mídia?  A TV e a rádio, livros, revistas, jornais, internet são exemplos de meios que a mídia se utiliza para promover produtos e convencer você a consumir. Cores, formas, sons, imagens e rapidez são os recursos mais utilizados para nos seduzir. É importante você saber que grande parte da mídia está a serviço de pequenos grupos dominadores de capital estrangeiro que ditam as regras do sistema capitalista, com visão racional e tendo o homem como o centro das atenções. A maior preocupação é a obtenção do lucro, e as culturas que representam a essência do povo deixam de ser respeitadas e preservadas.
As estratégias utilizadas pela mídia são bastante diversificadas e estar atento a elas pode significar um grande passo para que não venham a atingir nossos valores. Para isso é preciso desenvolver um olhar crítico e reflexivo antes de consumir, observando o que está além das aparências. Uma das grandes estratégias da mídia é estimular nossos sentidos com apelos visuais e sonoros seduzindo-nos com facilidades, promessas de felicidade, bem-estar e prazer. O que se esconde nesse jogo de sedução são os interesses de grupos minoritários. Para entender o que está por trás desse jogo, vamos voltar um pouco ao passado para compreender como a mídia surgiu no Brasil dentro do contexto histórico, político e econômico. Segundo o livro Mídia, Educação e Cidadania lançado por Pedrinho A. Guareschi e Oswaldo Bizz, a mídia rádio surgiu no Rio de Janeiro em 1922 no governo de Epitácio Pessoa. A intenção era demonstrar que o Brasil era um país próspero, desenvolvido e moderno.
A TV surgiu no Brasil em 1950, no Governo de Eurico Gaspar Dutra. Era a TV Difusora, canal 3, inaugurada no estado de São Paulo. A mão de obra utilizada vinha dos profissionais do rádio. Coincidentemente este modelo veio acompanhado pelo processo de industrialização e foi a partir daí que a TV e os demais meios reproduziram o modelo de exploração comercial norte americano que foram sendo utilizados para influenciar o consumo, comportamentos, valores e ideologias sobre a sociedade brasileira. Pequenos grupos que fazem parte da elite brasileira se tornaram “donos” das concessões de TV, rádio, jornais, revistas e que estão intimamente ligados aos setores privilegiados dos meios políticos e econômicos, tornando o processo de manipulação e desculturalização da sociedade brasileira uma realidade. Segundo o livro, o presidente da TV Bandeirantes, João Carlos Saad, informa que 75% dos canais do Brasil são de domínio estrangeiro contra 25% dos canais brasileiros, o que evidencia um grave problema porque o capital estrangeiro acaba por impor os seus valores culturais e influenciando o consumo. Em países como a França e o Canadá onde se valoriza a leitura e as leis são rigorosas para as concessões de TV e rádio, apenas 25% dos canais são estrangeiros e 75% são nacionais justamente para preservar o maior bem do seu povo, que é a cultura. Para ratificar o quadro de dominação, já no Brasil, pouco se tem feito para valorizar o hábito de leitura. Os adultos chegam a ficar de 25 a 30 horas por semana assistindo à televisão e as crianças entre 6 a 9 horas por dia.
Os nossos olhares devem estar atentos para os valores, costumes e ideologias cultivados pela família para não serem descaracterizados pela mídia nos modos de pensar e agir sobre os ambientes que nos cercam. Quando os produtos e serviços são  oferecidos pela mídia, devemos refletir antes de tomar uma decisão. Essa decisão determinará nossa adesão ao modelo vigente e cabe a cada um de nós avaliar e valorizar o diálogo sobre as condições econômicas, sociais, ambientais e culturais em que estamos inseridos na hora de consumir, quando e o que consumir. Isso pode ser feito trazendo para a sala de aula ou em casa cenas de novelas questionando a justa distribuição de renda, como as minorias (negros, índios, mulheres, crianças) são tratadas em detrimento de interesses, privilégios e defesa de determinada classe social. Nos telejornais, deve-se observar o tempo, a origem e o privilégio de notícias que falam de política, religião, esporte, economia, conflitos, crises, acidentes e como são tratados os trabalhadores, os personagens que mais aparecem e a que classe pertencem. No começo pode parecer complicado, mas é a melhor forma de confrontar valores e ideologias e tomar decisões mais coerentes com nossos modos de vida.
Aceitar passivamente o poder que a mídia exerce sobre nós é definir o papel de dominado. Michael Lowy, importante sociólogo, nos revela que no rio da história, não há contempladores do rio: nós somos o rio. A depender da posição assumida definiremos nosso papel na sociedade e de que forma podemos atuar sobre ela. Omitir-se, assistir, agir, impedir ou permitir são formas de definir nosso papel. Você já parou para refletir que, quando estamos diante da TV ou rádio, definimos nosso papel? Imagine uma cena de novela em que uma família de origem negra tem um pai que é um político corrupto e a notícia sai na imprensa. Qual será seu posicionamento? Você concorda ou discorda? Quando um homem branco é colocado na condição de grande empresário e utiliza várias estratégias para produzir riqueza, sem levar em consideração a vida de outras pessoas, qual será seu posicionamento? Você assiste passivamente ou questiona esses valores? Você já refletiu que nesses exemplos as cenas tentam reproduzir valores com a intenção de influenciar a nos identificar?
Para não sermos objetos de domínio, é importante exercer o poder da reflexão. Devemos retomar nossos pensamentos sobre nossas ações buscando respostas às situações que nos são apresentadas porque é a melhor forma de exercer nossa liberdade com responsabilidade, estimulando as gerações através da leitura de livros, diálogos, encontros, debates e produções escritas como estratégias de transformação da realidade e a melhor forma de valorizar o nosso senso crítico e tornar nosso ambiente mais sustentável.

¹Delamare Mello exerce a função de professor. É Biólogo graduado em Ciências Biológicas-UCSAL. Possui Especialização em Informática Educacional – UNYAHNA e Especialização em Educação Ambiental SENAC-Bahia.